A lânguida visão dos Andes
pôs em sua vida
a escuridão, a tristeza
que envolveu aquele dia
uma pequena mariposa
que vive na noite.
Caminha e voa mariposinha,
mariposa da noite,
mas não me vás assustar…
Disse-me que sabes caminhar pelas noites,
mariposinha negra.
Cuidado que vais me assustar,
retratinho do Diabo.
Que lindo, vais a voar na noite
com a queninha e o charanguinho ao lado
e assim nós dois iremos na noite…
Voa, voa comigo,
deixaremos o encantamento,
voltaremos às nossas colinas,
voa… voa… mariposa…
Assim como Arthur Rimbaud, Paul Verlaine, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Álvares de Azevedo, Castro Alves, Fagundes Varela, Paulo Leminski e tantos outros “loucos poetas” de seu tempo (diferentes de tantos outros “loucos poetas” mais racionais ou “sortudos” que viveram e vivem como Carlos Drummond de Andrade, Atahualpa Yupanqui, Manoel de Barros, Mia Couto, uma vida terrena mais natural e menos “louca”), Waskar Amaru viveu apenas 40 anos e Alfredo Zitarrosa apenas 53 anos, idades precoces se comparadas às médias estatísticas deste século XXI.
Mas o mais importante é a obra, o que fica para os hermanos humanos contribuindo para o avanço do humanismo na trajetória histórica.
“De cada um segundo suas possibilidades, a cada um segundo suas necessidades“, já disse o alemão barbudo.
Autor compositor uruguaio, cantador das alegrias e tristezas de seu povo
Alfredo Zitarrosa (Montevidéu, 10 de março de 1936 — Montevidéu, 17 de janeiro de 1989) foi um cantor, compositor, poeta, escritor e jornalista uruguaio. É considerado uma das maiores figuras da música popular de seu país e de toda a América Latina. Nasceu Alfredo Iribarne, filho de Jesusa Blanca Nieve Iribarne à época com 19 anos de idade, no Hospital Pereira Rossell, em Montevidéu. Pouco depois que nasceu, Blanca entregou o filho para ser criado por Carlos Durán, homem de muitas ocupações, e sua esposa, Doraisella Carbajal, então funcionária do Conselho da Criança. O menino passa a ser conhecido por Alfredo “Pocho” Durán.
Começou a carreira artística em 1954, em uma emissora de rádio, como apresentador e animador, roteirista, e ator de teatro. Foi também escritor, poeta e jornalista.
Desde o início, estabeleceu-se como uma das grandes vozes da música popular latino-americana, com raízes claramente folclóricas. Cultivava um estilo e conteúdo varonil, e sua voz grossa e de um acompanhamento típico de violão tornaram-se sua marca registrada.
Aderiu à Frente Amplia (coligação de partidos da esquerda uruguaia), o que lhe levou ao ostracismo e depois ao exílio durante os anos da ditadura militar. Suas canções foram proibidas na Argentina, Chile e Uruguai durante os regimes ditatoriais que governaram esses países. Viveu depois, sucessivamente, na Argentina, Espanha e México, a partir de 9 de Fevereiro de 1976.
Revogada a proibição de sua música, como de tantos outros artistas na Argentina após a Guerra das Malvinas, instala-se novamente em Buenos Aires, onde realizou três apresentações consideradas memoráveis no Estádio Obras Sanitarias, em 1983. Quase um ano depois, regressou ao seu país, onde teve uma grande recepção no histórico 31 de Março de 1984, descrito por ele como “la experiencia más importante de mi vida“.
El Zita é conterrâneo, da mesma geração e estirpe de José Alberto Mujica Cordano, o Pepe Mujica, revolucionário e Presidente e também de Eduardo Galeano escritor e poeta, ambos cidadãos da República Oriental del Uruguay.